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BATALHAR PELA FÉ

JUDAS


 Introdução Esboço do  Capítulo 1:1-25

INTRODUÇÃO

Autoria e Data. A Epístola de Judas, a última das epístolas "gerais" ou "católicas", diz que foi escrita por Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago. 

Propósito. Ao que parece uma carta geral aos cristãos do primeiro século, a Epístola de Judas adverte contra a incipiente heresia do Gnosticismo, uma filosofia que faria pronunciada distinção entre a matéria, inerentemente má, e o espírito, bom. Tal sistema de pensamento tinha sérias implicações para a vida e doutrina cristal. Desafiava a doutrina bíblica da criação. E dava lugar à idéia de que o corpo de Cristo  Judas (Comentário Bíblico Moody) 

foi apenas aparente, não real, pois se Cristo tivesse um corpo real, teria sido mau. Nos seus efeitos sobre a ética cristã, o Gnosticismo provocou dois resultados inteiramente diferentes: de um lado, o antinominianismo, a crença de que não há obrigação de se obedecer à lei moral, e de outro, uma forma de abuso do corpo para promoção da espiritualidade. 

As Escrituras se opõem à ambas. Pode-se deduzir da epístola que os leitores eram culpados, em diversos graus, de rebeldia contra autoridade, irreverência, conversa presunçosa e um espírito libertino. O tom de Judas é polêmico, pois ele repreende os falsos mestres que enganam crentes instáveis e corrompem a mesa do Senhor.

ESBOÇO

I. Identificação, saudação e propósito. Judas 1-4.

II. Advertências contra os falsos mestres. Judas 5-16.

III. Exortação aos cristãos. Judas 17-23.

IV. Bênção. Judas 24, 25.

COMENTÁRIO

Judas cap. 1

I. Identificação, Saudação e Propósito. Judas 1-4.

1. Judas identifica-se como o escritor, descreve o seu relacionamento com Cristo e Tiago, e define seus leitores, tudo em uma só curta sentença. Judas é um nome popular na tradição hebraica. Uma palavra freqüentemente empregada por Paulo – servo ou escravo – foi usada e fala da devoção de Judas a Cristo. O relacionamento consangüíneo do escritor com Jesus é de importância secundária. 

A soberania de Deus e a centralização em Cristo são expressas na eleição e preservação dos leitores. 

O verbo que foi traduzido para guardados aponta para a volta de Cristo. 


2. A trilogia de Judas, misericórdia, paz, e o amor, é notadamente semítica, e corresponde rigorosamente à "graça, misericórdia e paz" de Paulo (II Tm. 1:2).

3. O propósito da carta está explicitamente declarado, e o ponto de vista discutido está indicado. Judas não ordena asperamente mas apela com amor a que esses cristãos se lembrem da comum salvação. 

O advérbio grego hapax, uma vez (por todas, Hb. 6:4; 10:2; I Pe. 3:18), afirma a finalidade da revelação de Deus em Cristo na história redentora.

É o ponto fixo, não repetível, de nossa fé. Esta revelação alcançou o seu alvo, pois foi entregue aos santos.

4. O motivo da carta foi a penetração de pessoas ímpias na comunhão da igreja. Esses heréticos estão sujeitos a quatro acusações:

entraram secretamente ; já estavam destinados à condenação; são ímpios, isto é, irreverentes; e negam a Cristo como Mestre e Senhor. Negar é positivamente descrer do que Cristo testemunhou a Seu respeito. O

antinominianismo gnóstico implicava em dissimulação (lascívia), palavra que traz em si a idéia de devassidão sexual.

II. Advertência contra os Falsos Mestres. Judas 5-16.

5. Novamente foi usado o advérbio hapax (cons. v. 3); aqui se refere ao conhecimento que os leitores têm do Evangelho. 

O argumento de Judas é que a profissão de fé de um homem não coloca-o em posição de justo diante de Deus. A possibilidade de escorregar está ilustrada pelo exemplo dos israelitas incrédulos que foram salvos do Egito mas subseqüentemente destruídos.

6. A ilustração seguinte é a queda dos anjos rebeldes, que se desviaram de sua vocação exaltando-se. A linguagem de Judas aqui talvez reflita a influência do livro de Enoque, o qual contém uma descrição elaborada dos anjos desobedientes. Gênesis 6:1-4 fornece a narrativa bíblica original. 

7. Finalmente, Judas cita a história de Sodoma e Gomorra para reforçar sua imagem. Essas cidades, através das Escrituras, são simbólicas do juízo divino executado pelo fogo. Assim o seu destino foi uma figura do destino dos crentes professos que não perseveram na justiça.

8. A irreverência é o pecado principal dos homens ímpios do versículo 4. O sentido da palavra autoridades, ou os gloriosos não está claro; pode se referir aos líderes cristãos.

9. Judas reforça o seu pedido de reverência citando a história apócrifa de Miguel e o diabo, extraída da pseudoepigráfica Assunção de Moisés. Embora Judas citasse este livro e o de Enoque, não se pode apoiar a inferência de que ele lhe concedesse o status canônico ou historicidade. A moral que Judas aponta é que Miguel mostrou reservas até mesmo em seu relacionamento com o diabo, enquanto os falsos mestres não exibiam reverência por qualquer autoridade.

10. Faltando a percepção espiritual para reconhecer "os gloriosos", estes homens ímpios os escarneceram. Com ironia Judas destrói a afirmação gnóstica de superioridade espiritual professada por eles, dizendo que eles possuem somente instintos de animais irracionais.

 O conhecimento adquirido exclusivamente através dos sentidos naturais, e a dependência no mesmo, conduz sem dúvida alguma à destruição.

11. Judas pronuncia um ai!, empregando novamente uma tríade de exemplos históricos – Caim, Balaão e Coré. Caim é tipo de injustiça, Balaão do espírito da mentira e cobiça (cons. Nm. 22-24) e Coré, da rebelião dos descontentes contra autoridades devidamente constituídas (cons. Núm. 16). Esses tipos de pecados solapam a saúde espiritual de toda a igreja e destroem aqueles que os praticam.

12. O autor intensifica a condenação dos falsos mestres voltando-se das analogias bíblicas para as naturais, das quais apresenta cinco. Festas de fraternidade eram refeições feitas em conexão com os cultos de adoração ou a Comunhão, e sua, intenção era aumentar a comunhão cristã dos crentes, fortalecendo seu senso de união com Cristo. 

Ao que parece os heréticos gnósticos corromperam tais festas em orgias vorazes, pervertendo assim seu propósito. Eles se alimentavam sem se preocupar com o bem-estar espiritual da Igreja. Nuvens sem água descreve especialmente esses homens; não tinham preocupação espiritual, e eram carregados pelo vento como se não tivessem peso. O outono é a estação dos frutos. Mas os falsos mestres não produzem fruto, e tais árvores, estando duplamente mortas, estão destinadas à destruição.

13. As vidas dos ímpios são como as inquietas ondas bravias do mar, as quais sujam de detritos as praias. Tais vidas, além de produzirem condenação futura, são também motivo presente de vergonha e ignomínia. Por último, Judas descreve os heréticos como estrelas errantes. Ele dá a entender que sua existência é sem alvo e sem utilidade, a qual terminará em eterno esquecimento. 

14 - 16. Depois de afirmar o destino dos falsos mestres, Judas descreve o caráter deles de três maneiras. São resmungadores, isto é, lamurientos furtivos; são descontentes, cujo único guia é a sua paixão ; e são dados à  exibição barulhenta, tendo em vista o seu próprio lucro. 

III. Exortação aos Cristãos. Judas 17-23.

17. Embora esta carta fosse escrita a cristãos, nos versículos 5-16 Judas definiu os erros dos falsos mestres. Agora volta sua atenção para seus leitores em uma exortação direta. Eles evitarão o erro lembrando-se das palavras proferidas pelos apóstolos de que os falsos mestres apareceriam logo dentro da própria igreja. Com isso poderão devidamente "batalhar pela fé" (v. 3).

18. II Pedro 3:3 usa linguagem quase idêntica. Ambas as passagens parecem referir-se a uma tradição oral corrente sobre os ensinamentos apostólicos. No último tempo estabelece a atmosfera e destaca que no final da dispensarão as pessoas se caracterizarão por uma desesperada falta de espiritualidade. Escarnecer é ter atitudes ímpias para com as coisas santas, e escarnecedores (zombadores) não obedecem à lei do Espírito, mas seguem à lei da paixão da carne.

19. Judas continua sua acusação contra os falsos mestres, enquadrando-os em dois grupos: são divisivos e sem o Espírito de Deus.

O verbo grego, promovem divisões, sugere um estabelecimento de linhas demarcatórias que dão lugar a um espírito faccioso. Além disso, revela um senso de superioridade da parte destes falsos mestres. Com sutil ironia Judas acusa os gnósticos, que se consideravam espirituais, de não ter o Espírito. Ele afirma que a espiritualidade é uma qualidade de vida produzida pelo Espírito de Deus, e não pelo exercício religioso só conhecido pelos poucos iniciados.

20. Mais uma vez um desafio direto é feito aos leitores. A pureza de vida começa com a sã doutrina, isto é, a "fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (3). A chave para o significado de edificando-vos se acha na frase seguinte, orando no Espírito Santo. 

A forte implicação é que os homens verdadeiramente espirituais não são justos aos seus  próprios olhos nem desprezam os outros (19), mas aqueles que oram no Espírito Santo.

21. Arndt usa a seguinte paráfrase: "Guarde-se do perigo do mal, permitindo Deus demonstrar o Seu amor para você no futuro também".

O meio ambiente atual do crente é o amor de Deus e a expectativa futura é a garantia de vida eterna com Cristo Jesus.

22. O texto grego é de difícil interpretação em Judas 22, 23. No v.22 o verbo de maior evidência é eleeo, "socorrer", "mostrar compaixão".

O objeto da compaixão é aquele que duvida. Assim, nesta passagem, Judas insiste com os cristãos a atender às dúvidas intelectuais e morais dos afetados pelos falsos mestres. O fim em vista não é a expulsão e condenação dos duvidosos mas sua restauração à comunhão.

23. Zacarias 3:2-4 pode ter influenciado os pensamentos de Judas aqui, pois ele escreve sobre arrebatá-los do fogo. Fogo sugere paixão sensual, mas é mais plausível que seja uma alusão ao juízo eterno. É difícil saber se o escritor pretendia traçar uma nítida distinção entre as duas classes de pessoas com o duplo uso de alguns, ou simplesmente usou a expressão no sentido enumerativo. Seja como forem entendidas as palavras, a atitude do cristão deve ser de misericórdia para com o pecado, acoplada com ódio pelos pecados dele.

IV. Bênção. Judas 24, 25.

24,25. Uma das maiores e mais sublimes bênçãos do N.T. é esta que se encontra no final desta curta epístola. Duas outras bênçãos paulinas comparáveis são a de Rm. 16:25 e I Tm. 6:14-16. Vital a todas as exortações feitas aos crentes é o lembrete dos recursos infinitos do próprio Deus, único que tem competência para nos guardar de tropeçarmos nesta vida e atraí-los a Ele próprio no último dia. Ele aperfeiçoará a obra da santificação para que os crentes sejam irrepreensíveis, ou imaculados. Esta palavra faz lembrar a descrição dos animais sacrificados no V.T. Judas 25 ensina as duas coisas, a  singularidade de Deus e a igualdade de Jesus Cristo com Deus Pai.

Assim ele milita contra a idéia de que a divindade de Cristo foi uma invenção da igreja pós-apostólica. Deus é chamado sete vezes de Salvador no N.T. Aqui o Seu poder salvador está comprovado na Pessoa

do Seu Filho, o qual a Igreja reconhece como "Senhor", isto é, Deus. 

A  última atribuição de glória, majestade, domínio e autoridade é o testemunho de Judas do benevolente caráter de Deus, o qual operou a nossa salvação por meio de Cristo.


FONTE DE PESQUISA: Comentário Bíblico de Moody - volume 2

Por: José Lopes de Oliveira.


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