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A EDUCAÇÃO SOB A ÓTICA DA SOCIOLOGIA.

A EDUCAÇÃO SOB A ÓTICA DA SOCIOLOGIA Prof. José Lopes de Oliveira INTRODUÇÃO A realidade educacional em nossa atualidade, apesar de ter conquistado muitos avanços desde o início do milênio, ainda se mostra muito aquém do esperado e idealizado por todos nós. Muito disso é decorrente do descaso com o qual a educação em nosso país é tratada, e também por conta das consequências das desigualdades sociais, que se acentuaram ainda mais nesse período de crise pandêmica. Muitos alunos não conseguiram ter acesso às aulas por meio da internet, e por conta disso foram ainda mais prejudicados e excluídos do âmbito educacional. Por essas e outras questões a sociologia da educação é uma importante ferramenta de estudo e reflexão para compreender, explicar e buscar respostas e soluções para os diversos problemas da sociedade em que vivemos. Portanto, a sociologia da educação é uma área das ciências humanas que explora os desenvolvimentos sociais no âmbito do ensino e aprendizagem, sendo assim uma área que estuda e analisa todas as ações recorrentes dentro do processo de ensino, desde as relações com a estrutura social vigente, até o papel da educação dentro do contexto social. É de extrema importância compreender que a sociedade, a educação e os indivíduos estão direta e indiretamente interligados uns aos outros, numa relação de mutualismo e interdependência. Sendo assim, todos os agentes sofrem e exercem influência nos demais. Nesse contexto, a educação exerce um enorme papel e responsabilidade na formação dos indivíduos, que, por sua vez, constituem a sociedade à qual vivem. Portanto, consequentemente a sociedade nada mais é que um resultado da educação. Marx A luta de classes no contexto marxista entende esse “fenômeno” de exclusão e estagnação como algo proposital, pois a classe dominante luta para se manter em sua posição privilegiada, enquanto também articula para que a classe dominada não ascenda socioeconomicamente. Ou seja, as desigualdades presentes em nossa sociedade não são obra do acaso, mas sim algo premeditado, articulado e imposto para assim ser, pois enquanto a classe dominada (proletariado) busca sua ascensão socioeconômica e o sonho consumista, que lhes é vendido por meio da mídia comercial, eles são interrompidos e incapacitados pela exclusão social, desemprego, fome, miséria, intolerância, racismo, violência e etc. Sendo assim, apesar de ter a educação como um meio para alcançar melhores condições de vida e cidadania, somente ela não é suficiente, pois também se faz necessária uma seguridade às mínimas condições de vida aos cidadãos, para que eles não tenham que dividir o foco entre a escola e a sobrevivência nas periferias e áreas rurais, que são reflexos de desigualdade, exploração, miséria, fome e etc. Tendo todos seus direitos assegurados e com acesso à uma mínima condição de vida, o indivíduo vai fazer da educação um instrumento de autonomia e emancipação da sua vida em sociedade, pois como bem cita Paulo Freire: “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar opressor”. A educação libertadora deve priorizar a ascensão socioeconômica de todo o grupo, e não à uma falaciosa meritocracia, onde poucos indivíduos saem da posição de oprimidos para se tornarem opressores sem resolver a raiz do problema, que são as injustiças sociais que assolam a grande maioria da população. No contexto da luta de classes marxista, a educação deve emancipar os indivíduos para romper com a estrutura estatal vigente e o modo de produção capitalista, pois estes, como instrumentos da classe dominante, iriam promover uma educação doutrinária e alienante para atender os interesses do capital, mantendo a classe operária onde ela está e infelizmente sempre esteve, como simples força de trabalho para gerar mais e mais riqueza para um pequeno grupo que ocupa o topo da pirâmide. Durkheim Em uma concepção durkheimiana, a educação é um meio para moldar o indivíduo ao modo de seu contexto social e coletivo, também por meio da coerção que os fatos sociais impõem aos mesmos, de modo em que a consciência coletiva é formada por um conjunto de consciências individuais, mas essa mesma consciência coletiva interfere direta e indiretamente na formação de novas consciências individuais. Ou seja, nessa concepção, a educação seria uma ferramenta homogeneizadora, de modo que ela forma os indivíduos de acordo com determinada sociedade e contexto sociocultural, tendo ciência de seus costumes, valores, regras de conduta, deveres e etc. Da mesma forma, essa concepção também prega uma educação diferenciadora, impondo aos indivíduos um padrão de acordo com sua posição ou classe social, para que assim, se mantenha a ordem vigente e pleno funcionamento tal qual foi imposto à tal sociedade, de modo que a mesma não entre no estado de “anomia social”, que significa que tal sociedade está “doente”, fazendo uma comparação analítica com a biologia. A educação em um contexto durkheimiano, tem um posicionamento bem conservador, na maneira em que distingui os indivíduos e separa-os de acordo com sua posição ou função social, impondo aos mesmos tal padrão a ser seguido, para que eles não se revoltem com tais condições, pois segundo essa lógica, tal divisão é algo natural das organizações sociais, tendo em vista que ela já preexistia antes mesmo de tal indivíduo. Mas esse mesmo mecanismo educacional pode ser utilizado de forma progressista, tendo em vista que, ao invés de impor à uma formação de consciência individual os moldes da consciência coletiva vigente, a educação desenvolva a formação dessa mesma consciência individual um caráter ético, para que as novas gerações de indivíduos formem uma nova consciência coletiva ética, ou seja, respeitando as diversidades, combatendo os preconceitos, intolerâncias e injustiças, que infelizmente são vigentes em nossa atual consciência coletiva e social. Dessa forma, os jovens em sua formação educacional básica, irão superar essas mazelas sociais que tanto nos aflige e irão formar uma nova consciência coletiva ética, de modo que haja e interfira coercitivamente, corretivamente e diretamente na formação das novas consciências individuais, para que as mesmas sigam um comportamento baseado no respeito e harmonia com as diversidades tão presentes em nosso seio social, e desenvolvam um olhar crítico para repudiar e combater as injustiças sociais. Ou seja, combater por meio da educação essas práticas tão nocivas e fomentar uma formação mais respeitosa com as diferenças, diversidades e etc., evitando assim um estado de anomia, tensões e recorrentes conflitos sociais. Weber A educação em uma concepção weberiana está totalmente ligada à um processo de sustentação do capitalismo, fomentando o desenvolvimento do mesmo e atendendo a demanda de interesses econômicos de tal estrutura, de forma com que os indivíduos se adequem e se especializem para atender o processo de racionalização do sistema, seguindo um modelo tradicional de dominação hierárquica e competitiva, mas mediada de forma contratual, legal e burocrática. Seguindo essa lógica, a educação funciona como um processo de treinamento técnico, de modo que prepara o indivíduo para o mercado de trabalho. Weber tem uma análise social muito mais voltada para o indivíduo, ou seja, observando as condutas individuais e suas motivações, que poderiam ser em relação a fins, valores, afetividade ou tradição. Ou seja, segundo essa lógica, é a partir da observação da ação social do indivíduo que se pode analisar o seu comportamento na sociedade. Portanto, essa concepção sociológica é tida como compreensiva e se coloca a analisar o comportamento e conduta do indivíduo. Segundo Weber, a educação deve proporcionar uma formação visando a integralidade intelectual do aluno, tanto formando o indivíduo voltado ao campo da ciência para uma formação profissional, quanto formando o indivíduo também voltado ao campo da filosofia para uma formação ética, dando assim autonomia ao cidadão para que ele escolha de forma livre, mas com responsabilidade, suas condutas de ação social. Dessa forma, a educação deve romper com certos valores tradicionais, principalmente ligados à religiosidade, pois o indivíduo deve agir colocando em prática todos os seus conhecimentos e capacidades para enfrentar as demandas da sociedade, sem ficar refém e na espera constante de forças místicas, sobrenaturais ou de novos profetas salvadores. Nesse contexto, a educação além de proporcionar uma formação técnica e científica, ela também deve fomentar uma educação cidadã e filosófica baseada na ética, para que o indivíduo seja emancipado socialmente e tenha sua autonomia assegurada, pois dessa forma, tanto se promove um desenvolvimento técnico e econômico quanto social e de cidadania. Comte Auguste Comte enxerga a educação em uma concepção positivista, onde se busca compreender e explicar os fatos do mundo social por meio das metodologias das ciências exatas e biológicas. Segundo Comte, na sociedade existem duas leis fundamentais, a estática social e a dinâmica social. Seguindo tal lógica, o desenvolvimento só poderá acontecer se a sociedade for organizada racionalmente e cientificamente, buscando evitar o caos e a desordem. Posto que a sociedade em si esteja de tal modo organizada, ela irá evoluir sequencialmente. Essas leis podem ser traduzidas na máxima “ Ordem e Progresso”. O positivismo no âmbito educacional defende que apenas o conhecimento técnico e científico é verídico, onde não se aceita como verdades as alegações advindas de premissas sobrenaturais, místicas ou divinas. Apesar da positividade da cisão da ciência e religião para o desenvolvimento educacional, o positivismo defende exageradamente o tecnicismo, onde as rédeas da sociedade estariam exclusivamente nas mãos da classe de elite científica, que impõe uma certa monopolização do comando, gestão e controle do conhecimento que seria disseminado pelas instituições sociais aos indivíduos. No modelo educacional positivista a disciplina rigorosa é tida como a base essencial, indispensável e obrigatória para o exercício da aula, pois segundo a tese do positivismo, é dessa forma que seria alcançado o nível almejado de evolução educacional e técnica. Portanto, na escola positivista os estudos de cunho técnico e científico seriam priorizados em relação às outras áreas de conhecimento, sendo essas duas áreas de bases empíricas, as de principais cobranças impostas sobre os alunos, promovendo uma certa castração à indivíduos que tem mais dificuldades em certas áreas e facilidades em outras. Apesar de favorecer o conhecimento científico, técnico, racional e logico, esse modelo educacional acaba por ser autoritário e doutrinário, sendo que ele molda de modo ditatorial os indivíduos, para atenderem certo padrão de conhecimento em detrimento de suas especificidades e aptidões pessoais. CONSIDERAÇÕES FINAIS No atual contexto de educação, apesar dos significantes avanços positivos, ainda existem muitas metas à serem alcançadas, pois as escolas não estão preparadas estruturalmente nem tecnicamente para lidar com todas as especificidades e demandas que a imensa diversidade de alunos necessita. De tal modo, é muito importante que os centros educacionais ofereçam uma acessibilidade justa aos diversos casos individuais ou coletivos, principalmente nesse contexto de crise pandêmica onde muitos dos alunos das classes mais baixas, moradores da periferia ou zona rural, estão tendo seu direito à educação negado, por falta de acessibilidade às aulas que estão adaptadas ao modelo virtual e que infelizmente não é acessível para todos. As aulas de sociologia devem enfatizar um olhar exclusivamente para essas questões, mas sem abandonar as bases teóricas clássicas, pois desse modo, tanto se ensina o conteúdo da matéria quanto se faz uma mediação e incentiva um olhar mais crítico para nossa realidade. Uma ótima metodologia de ensino após a pandemia, seriam as aulas de campo, ligadas tanto à um aprendizado cultural quanto social, pois de tal forma a aula inclui o aluno diretamente naquele contexto, fazendo relação direta com o tema de aprendizagem em questão. As aulas de campo podem visitar diferentes espaços e contextos, desde museus, bibliotecas, centros culturais, artísticos ou de lazer, até comunidades quilombolas, indígenas, ecovilas, espaços naturais, ou zonas urbanas/rurais e periféricas, que enfrentam diversas dificuldades advindas das desigualdades sociais. Além disso, as aulas de sociologia poderiam incentivar os alunos a combater esses problemas de desigualdades sociais, fome e miséria com pequenas medidas assistencialistas, como por exemplo um trabalho de campo e projeto social na arrecadação e distribuição de alimentos básicos para as famílias mais carentes das zonas urbanas ou rurais. Pois assim, os alunos tanto desenvolvem um olhar mais social e humanitário na aprendizagem do conteúdo, quanto ao mesmo tempo eles sentem na prática que ações, por mais simples que sejam, podem ajudar muito a vida das famílias mais necessitadas, lhes auxiliando com recursos tão básicos como os alimentos, que infelizmente nossa estrutura social não se coloca no dever de proporcionar efetivamente. REFERÊNCIAS MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã:Feurbach – A contraposição entre as cosmovisões Materialista e Idealista. São Paulo: Martin Claret, 2006. DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2007. WEBER, MAX. Conceitos básicos de Sociologia. São Paulo: Editora Moraes, 1987. ARON, Raymond. Etapas do Pensamento Sociológico. SP: Martins Fontes, 2002. BRAVERMAM, H. Trabalho e Capitalismo Monopolista. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. DURKHEIM, E., Da divisão do trabalho social. [Tradução Eduardo Brandão]. 2º ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. HOBSBAWM, Eric. J. A Era do Capital 1848 – 1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. LÊNIN, Vladimir Ilich - O imperialismo: fase superior do capitalismo. Tradução Olinto Beckerman. 4. ed. - São Paulo: Global, 1987. MELLO, A. F. Marx e a globalização. São Paulo: Boitempo Editorial, 1999. psicoplopes.blogspot.com

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