Pular para o conteúdo principal

FILOSOFIA - CIDADANIA e POLÍTICA

FILOSOFIA: CIDADANIA e POLÍTICA
Prof. J. Lopes de Oliveira

Como cidadãos que somos, não há como vivermos alheios ao que é político, uma vez que todos os fenômenos da nossa existência estão diretamente relacionados ao que é público.

E política desde os gregos é a invenção da dimensão pública da vida.

Razão pela qual aparecemos publicamente à civilidade desde o nosso nascimento, que necessita de um registro oficial em cartório.

O mesmo se repete com as principais prestações de contas da nossa vida civil, que precisa estar devidamente registrada para efeitos legais.

 E o mesmo se repete na própria morte dos indivíduos, que também tem que ser um evento a ser devidamente computado pelo Estado. Ou seja, a cidadania é um fato social que está diretamente  atrelado ao ente federativa que nos gerou, a cidade, que é o nome primitivo de onde deriva a palavra cidadania, pois cidadãos é o que somos perante as instituições da república desde os municípios, passando pelos estados até ao ente federativo máximo, que é o Governo Federal e suas instituições.

Neste lugar, que é o lugar da cidadania, estão todos os indivíduos cada um de per si, pois em termos humanísticos e constitucionais, todos são cidadãos, do mais vil sanguinário ao mais piedoso de todos os representantes do altruísmo. (solidariedade – benfeitor).

 Esse primeiro tipo de cidadania, devido ao seu caráter inalienável, isto é, cidadania passiva, uma vez que nela ainda não temos as devidas condições de opinadores ou de eleitores, que é a cidadania ativa.

 E é exatamente nesse lugar ativo da cidadania, que aparece nos dias de hoje, um tipo de ator político e eleitor, que talvez sempre tenha existido no Brasil, quem sabe, até no mundo, mas que no cinismo dos extremismos  do Brasil de agora, ele se mostra em franca evidência e ascensão, que é o ator político e eleitor cúmplice.

Por mais que pareça absurdamente óbvio tal contraditório, na verdade, não há absolutamente quase nada que aconteça nos lugares mais elevados de uma república que não se pareça muito com as diversas representações sociais do nosso imaginário como população.
Tem que haver o mínimo de cumplicidade social para que os poderes de uma república se organizem ou se deteriorem, principalmente se ela for uma democracia. Pois eu não faço a separação entre pulação e poderes constituídos como fez Machado de Assis.

Talvez naquela época do século XIX isso fizesse algum sentido, mas hoje nos tempos da informação eu creio que não o faça.

A ponto de hoje uma pessoa que não esteja devidamente informada, como as vivem na região metropolitana do Rio de Janeiro em saber como essa cidade funciona em cada lugar das suas relações de poder, não saberá identificar o que hoje ocorre nos bastidores da república brasileira.
Pois aqui, também há lugares que simplesmente nós não podemos entrar sem conhecermos pessoas da localidade, sob pena de sofrermos represarias violentíssimas. Porém alguém pode pensar assim, mas isso é coisa que só ocorre na favela.

Não, engana-se quem pensa dessa maneira, pois as atividades paramilitares são vistas a olho nu não apenas no interior das comunidades mais carentes, mas os rumores a respeito das milícias e até do tráfico ocorrem também no asfalto onde nós moramos.

A ponto de nós ouvirmos relatos de pessoas de universidades públicas da cidade que sofrem interferências de comandos ocultos pela ilegalidade.
 O  Paulo Guiraldeli em um dos seus vídeos, fala sobre essa realidade que ele mesmo viveu de perto quando ele foi professor da Universidades Rural de Seropédica/RJ.

Se é mesmo verdade que uma universidade pública sofre interferência de forças ocultas que não são devidamente militarizadas pelo Estado, e hoje nós ouvimos cada vez mais nomes como Escritório do Crime, Queiróz, capitão Adriano, milícia, e todos essas coisas ligadas à família do presidente da república e ao próprio presidente, nós precisamos reconhecer sem medo de errar, que mesmo isso que aparenta ser tão absurdo, é muitíssimo parecido com a gente, pois esses movimentos não influenciariam as favelas, não desceriam para o asfalto, não interfeririam  nos interiores das festinhas de universidades públicas, não influenciariam os interiores das nossas câmaras legislativas e não seriam as bases as sólidas bases eleitorais que originaram o atual presidente da república, se não houvesse uma ampla cumplicidade entre os atores da política e da cidadania, que somos nós, com todo esse submundo.

E o que é mais contraditório é que como essas coisas não têm muito filtro no dia a dia da cidade do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e outras  regiões metropolitanas, agora quando elas aparecem em aliança com o poder, elas se mostram e como se dão a nós moradores da cidade no dia a dia de cada um de nós, de maneira mais explícita e bem mais escancarada.

Da mesma maneira como a cidadania passiva nos conduz à práticas aparentemente burocráticas, corriqueiras e automáticas como o simples direito de andar pelas ruas ou como uma simples compra no mercadinho da esquina, que tem lá o seu devido Lugar, as intervenções da ilegalidade a partir dos morros e das periferias da cidade nos levaram a outras formas de comportamentos passivos, que como são impostos por grupos paramilitares, promovem uma espécie de paracidadania passiva.

Essa paracidadania da passividade, ao contrário da cidadania passiva, aparece quando as práticas do cotidiano são simplesmente atravessadas pela paranormalidade das localidades onde as pessoas são incentivadas e até intimidadas a assinar a gato get desses interventores ilegais, quando os cidadãos são obrigados a só consumir o gás dos negócios clandestinos da milícia, do tráfico ou de ambos quando existe acordo entre essas várias partes do crime, quando a gente passa a não ter mais na prática o direito de ir e vir em partes consideráveis da nossa geografia urbana, quando nós precisamos pagar a grupos privados por um direito público como a nossa segurança.



E como essas coisas fazem parte da normalidade vivenciada na nossa urbanização, sobretudo na urbanidade do Rio de Janeiro e São Paulo, essas ilegalidades explícitas que nós assistimos pela região metropolitana do Rio de Janeiro, Maranhão, Alagoas e outras metrópoles  gerou os seus devidos candidatos a vereador, a deputado estadual e deputado federal, a senador e a presidente da república.

E como eles estavam já acostumados à viver em meio a esses ilícitos de uma maneira muito explícita, quando eles chegaram à presidência da república, o que era pornograficamente explícito aos nossos olhos dos cidadãos cariocas e fluminense, se apossou da presidência da república de tal forma, que um advogado do presidente da  abrigou nos interiores das suas prioridades, um cidadão chamado Fabrício Queiróz, que além de pertencer às perigosíssimos milícias segundo investigações do Ministério Público, ainda têm revelações a fazer que podem comprometer diretamente a reputação já tão abalada do presidente da república e de toda a sua família.

Tudo isso também prova que as várias relações ilícitas que fazem parte do poder não são apenas um fenômeno político que habita as superestruturas da república, mas elas também fazem parte de uma grande cumplicidade que se espalha sempre por partes consideráveis da nossa vida e por espaços privilegiados da nossa paisagem urbana. Ou seja, direta ou indiretamente, somos cúmplices disso tudo.

Quando eu falo a respeito da nossa cumplicidade em relação à ilicitude que aparece na paisagem urbana de uma grande cidade a exemplo do Rio de Janeiro, tal cumplicidade não ocorre necessariamente por causa da maldade de cada cidadão afetado por ela, pois essas irregularidades são células orgânicas que cumprem um papel social, econômico e político muito peculiar na vida dos nossos grandes centros urbanos.

Inclusive, essas unidades oficiosas empregam os excedentes de mão de obra barata e não qualificada nas suas atividades, seja na segurança privada clandestina, seja entre os soldados da milícia e do tráfico de drogas, seja no Jogo do Bicho e etc. E por que ocorre uma realidade como essa? Isso acontece também porque o Brasil é um país que hoje tem uma população que praticamente duplicou e passou de 120 para 220 milhões de habitantes nos últimos 50 anos.

Mas enquanto o país crescia, e crescia muitíssimo, da década de 30 até a década de 80, os ativos desse crescimento jamais foram investidos em um desenvolvimento humano e cultural de inclusão social e de distribuição de riquezas através da qualidade de uma educação popular que acompanhasse o ritmo do nosso crescimento econômico.

E isso se agravou porque esse crescimento começou a decair durante a chamada década perdida, que foi a década dos anos 80.

De lá pra cá, permanecemos dando continuidade hora mais, hora menos a uma tradição que faz do nosso país uma das nações mais desiguais do mundo.

Inclusive segundo a instituição Transparência Internacional, o que faz com que um país seja cada vez mais corrupto, é a sua desigualdade social.


Sendo que o contrário ocorre entre as nações que mais investem em igualdade, pois elas são as menos corruptas do planeta.

Desta maneira, as atividades ilícitas, que em praticamente todo o mundo se alimentam dessas condições de desigualdade, acabam se democratizando criminalmente em lugares como o Brasil, sobretudo na região metropolitana do Rio de Janeiro, a ponto dessa criminalidade se emaranhar no dia a dia da própria condição humana regular, se espalhando entre as moradias, atravessando as atividades econômicas, se interpondo entre os setores da política, e pasmem, se colocando até entre as atividades religiosas das pequenas, das  médias e de algumas grandes igrejas evangélicas.

 O resultado disso tudo é que a paracidadania dessa ilicitude se mistura quase sempre com o modus vivendi da vida normal, e isso faz com que os cidadãos vivam não apenas perante à cidadania passiva da burocracia diária, mas também as pessoas passam a dialogar normalmente com essa espécie de paracidadania da passividade que circula em quase todos os espaços urbanos e institucionais da cidade.

Essa paracidadania está em quase todos os lugares, entre os flanelinhas que cobram para tomar conta do nosso carro para que ninguém o deprede, entre os seguranças particulares do comércio, ligados ou não às milícias, que cobram para evitar a quantidade de roubos no comércio, entre os comércios de pirataria que são ligados à criminalidade, mas que mesmo assim emprega o cidadão pai de família bem intencionado e etc.


Diante dessa aparente presença inconteste da paracidadania da passividade, como passar da cidadania passiva para a cidadania ativa?

A cidadania ativa ocorre quando nós ultrapassamos e superamos o simples cotidiano da cidadania passiva e desenvolvemos formas de participação política, seja por uma adesão a uma campanha que esteja nas redes sociais, seja participando de uma manifestação, ou seja comparecendo às urnas no dia de uma eleição.

 Mas já tivemos a oportunidade de ver que muitas das vezes não há como nós vivermos em todas as situações praticando a simples cidadania passiva, que é para ser vivenciada na normalidade do cotidiano.

 Pois devido à ascensão das atividades ilícitas que se formam nas nossas redondezas, próximas aos nossos locais de trabalho e a partir das periferias e morros das nossas cidades, a cidadania passiva da legalidade precisa conviver com a paracidadania ilegal da passividade simplesmente como forma de sobrevivência.

Mas diante de tudo isso, como nós praticaremos a cidadania ativa nas nossas cidades e centros urbanos com todos esses fenômenos geopolíticos e humanos semelhantes ao que ocorre na região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro?

 Pois se diante da cidadania ativa nós nos comportarmos politicamente como nós nos comportamos na esfera da paracidadania da passividade, como nós vamos superar a sua ilegalidade? será que mesmo com a oportunidade de praticarmos a cidadania ativa, nós vamos nos utilizar da sua legalidade e legitimidade  para apoiar e votar nos mesmos atores políticos que vivem ancorados no dia a dia da paracidadania passiva?

Quando nós praticamos a paracidadania passiva não há a princípio muitas opções, pois os indivíduos que nos cercam de ilegalidade, estão com os seus braços armados muito próximos da nossa convivência para que nós possamos reagir ativamente.

Com isso desenvolvemos maneiras de cumplicidade para com a da ilicitude como simples forma de sobrevivência. Mas e quando temos a oportunidade de através de uma passeata, e quando  temos a possibilidade de através das redes sociais e quando  temos as chances de praticarmos todo tipo de cidadania ativa através do voto e mesmo assim continuamos apoiando os atores políticos que se beneficiam politicamente das ilegalidades impostas pela paracidadania passiva? será que “serei eu” ou seremos nós cúmplices de toda  falta de decoro desses atores e marginais da cena política?

Hoje assistimos perplexos a um cenário quase surreal na cena política do país. E salvo os que se beneficiam muito do atual governo ou os que são amantes da mais pura aberração política.

No dia a dia das nossas cidades é muito difícil às vezes praticarmos à cidadania ativa por causa dos braços armados clandestinos que estão à nossa volta, razão pela qual por constrangimento, somos obrigados pela nossa segurança e pela segurança das nossas famílias a praticarmos a paracidadania da passividade.

Que Deus nos abençoe e o Brasil acima de tudo.


Prof. José Lopes de Oliveira
Me. Ciência da Educação - UNIATLÁTICO -  Espanha
Psicopedagogo  Clínico e Institucional - UNAR   e   FACON /SP
Pedagogo Adm. Escolar - FAAC/ Cotia/SP
Teólogo - Inst. Superior Betel/SP
Gestor Social - FITO- Osasco/SP
Colunista Jornal de Icém/SP
Tem artigo publicado na Regista CIPA
Livro: A Contribuição da Psicopedagogia no Projeto Missionário - Ed. Koinonia - 2014


Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

AS RAÇAS PROCEDENTES DOS TRÊS FILHOS DE NOÉ

Segundo o esquema de Paul E. Ilhrke de Chicago, E.U.A com base em Os descendentes de Cão Gn. 10:6-20 quatro raças originaram-se dos quatro filhos de Cão. Essas por sua vez subdividiram-se depois.  Povoaram as terra da África, da Arábia oriental, da costa oriental do Mar Mediterrâneo, e do grande vale dos rios Tigre e  Eufrates. Não há provas para afirmar que todas as raças descendentes de Cão eram negras. As primeiras monarquias orientais eram dos descendentes de Cão, por Cuxe. Existe uma opinião que alguns dos descendentes de Noé emigraram para a China e que de lá passaram para as Américas através do Estreito de Béringue e do Alasca. Certos cientistas são de opinião de que em algum tempo os dois continentes estivessem ligados. A distribuição da descendência de Cão - filho de Noé é a seguinte:                                                                 CÃO - FILHO DE NOÉ                                                                    Quatro Filhos                      

A HISTÓRIA DO VCC

A ESTÓRIA DO VCC Conta-se que certo caipira estava no seu trabalho rotineiro, num canavial, quando, de repente, viu brilhar três letras no céu: VCC. Muito religioso, o caipira julgou que aquelas letras significassem " Vai Cristo Chama ". Fiel à visão correu ao pastor de sua Igreja e contou-lhe o ocorrido, concluindo que gostaria de devotar o restante de sua vida à pregação do evangelho. O pastor, surpreso diante do relato disse: Mas para pregar o evangelho, é preciso conhecer a Bíblia. você conhece a Bíblia o bastante para sair pelo mundo pregando a sua mensagem? Claro que sim! - disse o homem. E qual é a parte da Bíblia que você mais gosta e conhece? As parábolas de Jesus, principalmente a do Bom Samaritano. Então, conte-a! - pede o pastor, querendo conhecer o grau de conhecimento boblico do futuro pregador do evangelho. O caipira começa a falar: Descia um homem de Jerusalem para Jericó, e caiu entre os salt
  A ESCOLA NO COTIDIANO CONSTRUINDO SABERES PARA A VIDA A Educação é um pilar fundamental no desenvolvimento humano e desempenha um papel crucial no cotidiano de cada indivíduo. Não restringindo ao ambiente escolar, a Educação permeia todas as esferas da vida, moldando valores, habilidade e perspectivas. Além disso, desde os primeiros anos, a família desempenha um papel primordial na transmissão de valores  e comportamentos, moldando a base da educação de um indivíduo. No entanto, é no cotidiano escolar que esta base é ampliada e complementada. Contudo, no âmbito escolar, a Educação não se resume apenas no aprendizado de matérias acadêmicas, mas, também ao desenvolvimento de habilidades sócio-emocionais, pensamento crítico e senso de cidadania. A interação com colegas e professores enriquecendo o repertório de experiências, incentivando a colaboração, a empatia e o respeito à diversidade. com isso, a escola no cotidiano instiga as curiosidades, promovendo o hábito de aprendizado contín