A perspectiva da
autonomia no ensino de valores
A autonomia vem do grego: autos (eu mesmo, si mesmo) e nomos
(lei, norma, regra). Aquele que tem o poder para dar a si mesmo a regra, a
norma, a lei, é autônomo e goza de autonomia ou liberdade. Autonomia significa
autodeterminação. Quem não tem capacidade racional para a autonomia é
heterônomo. Heterônomo vem do grego: hetero
(outro) e nomos: receber de um outro
a norma, regra ou lei.
A autonomia refere-se por um lado, a um nível de
desenvolvimento psicológico (conforme explicitado em documento de Ética), e,
por outro lado, à uma dimensão missionária. A autonomia pressupõe uma relação
na qual os outros se fazem necessariamente presentes como alteridade. Nesse
sentido, trata-se da perspectiva da construção de relações de autonomia. Não
existe a autonomia pura, como se fosse uma capacidade absoluta de um indivíduo
isolado. Por isso, só é possível realizá-la como processo coletivo e que
implica relações de poder não autoritárias.
Lembrando que a dimensão ética da democracia
consiste na afirmação daqueles valores que garantem a todos o direito a ter
direitos, é preciso fazer uma distinção entre afirmação e imposição de valores.
A imposição, por si própria, contraria o princípio
democrático da liberdade e, com isso, o máximo que se consegue é que as pessoas
tenham “comportamentos adequados” quando sob controle externo, o que é
essencialmente diferente da perspectiva da autonomia na construção de valores e
atitudes.
O comportamento pessoal se articula com inúmeros
outros fatores sociais seja na manutenção, seja na transformação desses valores
e das relações que os sustentam. Portanto, o desenvolvimento de atitudes
pressupõe conhecer diferentes valores. Poder apreciá-los, experimentá-los,
analisá-los criticamente e eleger livremente um sistema de valores para si.
Para concretizar essa intenção exige-se que os valores
eleitos e a intenção de ensiná-los sejam explicitados para todos,
principalmente para os discipulandos, e que o trabalho missionário inclua a
possibilidade de discussão e questionamento e não ocultação de contradições,
conflitos e confrontos. Infere-se compreender que os conflitos são inerentes
aos processos democráticos, são o que os fazem avançar e, portanto, não é algo
negativo a ser evitado.
Isso significa valorizar positivamente a capacidade
de questionar e propor mudanças buscando construir situações didáticas que potencialize
tal capacidade e possibilitem o aprendizado sócio religioso de modo a
utilizá-lo de forma consequente, responsável e eficaz. Como exemplos têm-se
experiências missionárias de construção participativa de regras de convívio
ministerial, de discussão de situações-problema no campo missionário, de
projetos de intervenção no espaço que podem ser adaptadas aos níveis evangelísticos
de acordo com a possibilidade dos
discipulandos. Mesmo em regiões onde há as diferenças religiosas é possível
oferecer informações, vivências e reflexão sobre as causas e as nuanças dos
valores que orientam os comportamentos e tratá-los como produtos de relações
sociais, que podem ser transformados.
Ao lado do conhecimento de fatos marcantes da
realidade missionária brasileira, de informações e práticas que lhe
possibilitem participar ativa e construtivamente do Projeto Participativo, os
objetivos do ensino discipular apontam a necessidade de que os missionários se
tornem capazes de eleger critérios de ação pautados na justiça, detectando e
rejeitando a injustiça quando ela se fizer presente, assim como criar formas
não violentas de atuação nas diferentes situações da vida. Tomando essa ideia
central como meta, cada um dos temas traz objetivos específicos que os
norteiam.
Fonte: - OLIVEIRA, José Lopes de, A Contribuição da Psicopedagogia no projeto Missionário (2010,p.86) E
d. Koinonia
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